Caravaggio | M6











A atitude artística deste pintor é de franca rebeldia contra os convencionalismos do momento. O estranho realismo de Caravaggio consiste não em copiar e observar a natureza, mas em contrapor o valor moral da prática ao valor intelectual da teoria.


O aspecto mais notável da sua obra é o tratamento da luz, que recebe o nome de tenebrismo. Consiste em projectar a luz sobre as formas com violência e em contraste intenso e brusco com as sombras. O seu precoce domínio dos efeitos claro-escuro marca o início de uma das grandes conquistas da pintura barroca. Outra característica primordial do estilo de Caravaggio é o naturalismo imaturo como reacção face ao idealismo renascentista. Naturalismo que, por outro lado, não está em duelo com a grandiosidade da composição.


A este interesse naturalista respondem quadros de costumes como “Mulher a Tocar o Alaúde” e “Jogadores de Cartas”, pintados na sua primeira época. A plenitude do seu estilo encontra-se em cenas religiosas que trata com um naturalismo e um realismo quase insolentes. Tal é o caso de O Santo Enterro e de O Enterro da Virgem. Nesta última obra, a figura da Virgem é inspirada no cadáver de uma mulher afogada no Tibre e com o ventre inchado. A exposição pública deste quadro numa igreja choca com o gosto classicista imperante em Roma, e tem que ser retirado




A influência de Caravaggio sente-se em Itália e no resto da Europa durante todo o século xvii, e os seus seguidores continuam a cultivar o tenebrismo e o naturalismo no século seguinte.


Características da arte de Caravaggio

Podemos salientar como características da pintura de Caravaggio:
Usar como modelos, nos seus temas – históricos, religiosos, ou cenas de género –figuras vulgares de mulheres e homens comuns (possuindo algumas delas um certo carácter rude que choca os seus contemporâneos);
Usar uma luz rasante e descontínua;
Iluminar fortemente alguns pormenores ou personagens importantes da cena.











A pintura tem como tema dois jovens jogadores de cartas na presença de um homem mais velho que apoia o jovem de costas a fazer batota. O cenário é praticamente inexistente, sendo a posição das figuras e a luminosidade que envolve os jogadores os factores que fazem desta obra de Caravaggio uma obra-prima. A luz que vem da esquerda do quadro cria um espaço ilusório e uma profundidade que coloca o observador numa posição que lhe permite observar a cena com grande detalhe. O batoteiro é representado de costas, permitindo ao espectador notar que está a tirar do cinto uma carta, depois de ver o sinal que o seu comparsa lhe faz ao espiar o jogo do incauto jovem adversário. Do lado esquerdo, o objecto da cobiça: uma pilha de moedas sobre um tabuleiro de gamão.


Esta cena, quase teatral, descritiva e realista contém todavia um intuito moral: a condenação do vício do jogo.