Sotheby’s leiloou três obras de Miró guardadas há 50 anos num cofre de Nova Iorque


Estavam há 50 anos guardadas num cofre. Estavam esquecidas e são muito poucos aqueles que já conheciam estas obras antes de terem sido levadas à praça esta semana pela Sotheby’s. As três pinturas que Joan Miró fez para o realizador Thomas Bouchard e a sua filha Diane, enquanto estes filmavam um documentário sobre o catalão, foram vendidas por 9,3 milhões de dólares (aproximadamente 6,7 milhões de euros).

Quando Joan Miró (1893-1983) chegou a Nova Iorque em 1945 era já um artista reconhecido pelo seu trabalho. O entusiamo pelas suas obras era muito na cidade norte-americana, tão grande que a euforia à sua volta não era tanto do seu agrado, levando-o a recatar-se e a rodear-se apenas de alguns amigos, principalmente de Pierre Matisse, como escreve o site especializado artnet news.


Pierre Matisse tinha uma galeria em Nova Iorque e era o representante de Miró nos Estados Unidos, tendo sido o galerista, filho de Henri Matisse, o grande responsável por introduzir a obra do catalão no circuito das artes norte-americano. Por isso mesmo, quando viaja para Nova Iorque é com Matisse que Miró fica, criando vários trabalhos nesta altura no estúdio de Matisse.

Foi nesta altura que Joan Miró pintou as obras que esta semana a Sotheby’s levou a leilão e que superaram as expectativas da leiloeira. Além de Matisse, do grupo de amigos de Miró fazia parte o realizador Thomas Bouchard, que aproveitou a estadia do artista em Nova Iorque para filmar o documentário Around and About Joan Miró, que nunca chegou a ser editado.

Sobre a vida de Miró e a forma de trabalhar, no documentário vê-se o processo de criação em 1947 da pintura leiloada. Com uma dedicatória a Diane Bouchard, filha do realizador, esta obra foi arrematada por 8 milhões de dólares (5,7 milhões de euros), dobrando assim as estimativas da Sotheby’s que apontavam para os 4 milhões (2,9 milhões de euros).

Sem título, o óleo pintado em 1947, estava há 50 anos guardado num cofre em Nova Iorque e só no ano passado, depois da morte de Diane Bouchard, é que vieram a público. Além desta obra, faziam parte da colecção de Bouchard outras duas peças do catalão: um óleo de 1946, também sem título, e uma água-forte colorida, Serie II:One Plate (1947).


A estimativa mais alta da Sotheby’s para este óleo apontava para os 600 mil dólares (431 mil euros) mas a obra acabou vendida por 1,3 milhões de dólares (cerca de 935 mil euros). Já a água-forte foi arrematada por 68,7 mil dólares (49,4 mil euros), quando a estimativa máxima da leiloeira apontava para os 20 mil dólares (14,3 mil euros).

Estas obras leiloadas pela Sotheby’s têm uma origem semelhante às que o Estado português quer levar a leilão na Christie’s em Junho. Ou seja, o círculo do galerista Pierre Matisse. As 85 obras de Miró, na posse do Estado desde a nacionalização do BPN, foram adquiridas em 1990 pelo empresário japonês Kazumasa Katsuta à família de Matisse e constituíam parte dos fundos da sua galeria em Nova Iorque.


O leilão de arte moderna e impressionista da Sotheby’s rendeu 219 milhões de dólares (157,5 milhões de euros). A obra mais cara da noite foi um óleo de Picasso, Le Sauvetage, pintado em 1932, e que foi leiloado por 31,5 milhões de dólares (22,6 milhões de euros)